
Prosa no texto, texto rima
Inicia com a chegada das carnes para os marchantes começarem a cortar
Higiene a desejar
Já um tantinho de gente a circular
No final de tarde da sexta, todos a esperar
No churrasquinho de Dona Ilza Cajuá
O carvão inicia a queimar, carnes fresquinhas começam a assar, dá gosto saborear
Cervejas geladas, de tudo que é marca, já estão a rolar
Carrões, com som a tocar
Cada um faz sua própria conta, a pagar
Esse muído passa a noite até clarear
Faltando banheiro, os presentes na praça, estão a mijar
A muvuca no sábado de manhãzinha, já toma conta da feira, é gente de friviar
Mangaio, roupa, peixe, carne, relógio, celular, estribo, lanche, faca peixeira
Todos, ao longo do dia, na feira a comprar
Táxi de carrinho de mão, trabalho infantil, a transitar
Garotas jovens, bonitas, na profissão milenar
São alguns problemas sociais da feira do meu lugar
Na praça, no troca troca, muitos negócios a se ajustar
Matuto que vem do sítio em lotação
Suprir as necessidades de sua manutenção, a fome enganar
Tem o povo mais abastado, chega cedo, já vem com a sacola na mão, muita coisa comprar
Pedintes avulsos, carros de som, com sua propagandação, vendedor de remédio de planta, tem cura pra tudo, piolho, caganeira, cefaléia, pereba, sarna, olhado, bucho inchado, espinhela caída, lundun, pano branco, unha encravada, esporão de galo, constipação
Vendedor de peixe oferece tudo que é pescação
Tilápia, avoador, tainha, atum, piaba, serra, corvina, meca, cação, o que não falta é opção
A verdura toda é exposta, toda bonitinha
Tem qualidade, preço, desse jeito que o comprador gosta
Tem doente, indigente, clamar, por uma moeda implorar
Nas bancas de roupas
Todos os modelos e marcas famosas
Onde no cidadão causa até surpresa
– As grifes são de origem duvidosa, nebulosa?
– Com certeza!
Também tem muita coisa nas lojas do calçadão, parcelam, aceitam até cartão
Muita promoção
A feira do meu lugar é formada de pessoas, trabalho e suor
Carroceiro, cabeceiro, encrenqueiro, malandro sorrateiro
Alguns vão até pro chirindró
Tem muito mais a ofertar
Caixa de som usada
Panela de pressão
Chapéu de couro
Boné
Blusão
Retratista no meio da rua
Com sua máquina na mão
Bicicleta, o caboco compra, já volta contente, bossando, com a sua em cima da lotação
E ainda na feira você vai encontrar
Cela, arreio, chicote, freio, chibata, rédea, bota
Tudo pra quem precisa montar
O mercado também é aberto
Para qualquer cidadão ir comprar, se alimentar
Cuscuz com guizado, ovo frito, buchada, picado, degustar
Tem queijo, siquilho, raivinha, brote, bolacha, biscoito de nata
Tem mais queijo
De coalho salgado, de manteiga
Para provar, se aprovar, é só pagar e levar
Carne de porco torrada, macaxeira, batata, iguarias do meu lugar
Um carteado no meio da praça, se quiser, pode apostar
O tempo passando, o sol aumentando
O barraqueiro suando, mercadoria boiando
E chegou a hora do grito soltar
E o povo mais pobre também começa a comprar, pechinchar
Suas sacolas encherem com tudo que existe por lá
E Manezin, meu companheiro das farras, o Coroné do Agreste, no alto da esquina de sua varanda, com olhos de águia, não deixa nada passar
Ver tudo, a supervisionar
E Fábio Couto, na sua rotina, chega pra sua goma pegar
É a feira!
A feira do meu lugar
Começando a minguar
Alguns já começam a barraca desmontar
E carroceiros as tábuas a carregar
E os últimos bêbados ainda estão a ficar
E a turma da limpeza começa a chegar
A rua varrer, a lavar
Tudo limpar
Agora é só esperar
Sexta a noitinha, de novo, recomeçar
E eu estarei na resenha em Dona Ilza
Na feira do meu lugar
Juinin Rebouças, 11/01/2019, São José de Mipibu